SÃO PAULO - Era sua primeira vez em um centro espírita. A curiosidade fez com que enfrentasse aquele medo infantil das "coisas do outro mundo". Bastava relaxar, fechar os olhos e se concentrar. Teria funcionado - principalmente se o chão não tivesse começado a tremer de forma assustadora. A história aconteceu na esquina da rua Arthur Azevedo com a Mourato Coelho, em Pinheiros, zona oeste. Lá, existe um sobrado onde esse tipo de manifestação sobrenatural ocorre com uma certa frequência. Bom, pelo menos naquelas noites quentes em que o Salim Rabay precisa ligar os seus potentes ventiladores.
O Centro Espírita Mensageiros da Paz e Esperança está localizado exatamente em cima do movimentado bar do Salim. "A pessoa toma um passe lá em cima e se purifica inteirinho. Depois, vem tomar uma cervejinha gelada aqui embaixo," brinca Rabay, proprietário do bar.
Embora de naturezas tão distintas, bar e centro espírita convivem em harmonia. O acordo é simples: em dias de consulta espiritual (normalmente às terças e quartas-feiras), os ventiladores sobrenaturais só podem ser ligados após as 20h, quando as sessões terminam.
Salim não se incomoda com a regra e até se sente privilegiado. Para ele, a presença do centro espírita em cima do bar criou uma aura de proteção no lugar. Na dúvida, o proprietário ainda mantém em seu estabelecimento uma imagem de Nossa Senhora e outra, bem escondidinha, do Zé Pilintra, entidade da umbanda, ao lado de um copo cheio de pinga. "Quanto mais proteção, melhor", diz Salim. Tantas almas circulando em um ambiente etílico nunca trouxeram problemas. Salim garante que nunca se sentiu "assombrado."
O Centro Espírita Mensageiros da Esperança e Paz também não tem do que reclamar. Muitos clientes do Bar do Salim acabaram se tornando adeptos do espiritismo. "A entrada para o centro é colada à lateral do bar. Tem gente que se confunde e vem procurar mesa aqui em cima. Às vezes, as pessoas se interessam e voltam para tomar um passe", diz um dos orientadores do centro, Gustavo Rocha. A turma dos espíritas também faz confraternizações nas mesas do Salim, sem preconceito. Uma adepta do Mensageiros da Paz se empolga. "Estamos torcendo para ele abrir no almoço. Vamos frequentar mais."
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